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Mais de um

terça-feira, 12 de outubro de 2010


Paciência pra olhar o futuro, e não ansiar por ele. Deixar o passado guardado numa caixa, e enterrá-la bem fundo. Paciência pra assimilar a realidade, por mais difícil que pareça. Eu preciso de ferias de mim. Férias dos meus pensamentos. Preciso focar algum ponto, e me concentrar nele. Preciso de mais de uma porta para abrir. Mais de uma escala para subir. Preciso ignorar meus desejos, porque são fortes demais, e não os controlo. Preciso livrar-ma da razão, que me impede de fazer o que eu quero. Preciso de mais que uma luz pra iluminar. Mais de uma caminho a seguir. Preciso de Férias dos meus fantasmas. Preciso de água fresca e um jardim. Algo que me faça esquecer o deserto e o som do vento que há nele. Preciso de mais que um amor. Preciso de mais de um de mim. Mais que uma árvore pra pantar,mais que um livro pra escrever. Preciso de tudo que há, e de mais um tantinho assim.
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Tempo, tempo...

domingo, 25 de abril de 2010

Escrever Aqui é como contar os dias. E os dias que não correm no curso do rio são difíceis. As horas infindáveis não atravessam o reboco frio da minha casa de tijolos. O tempo se arrasta feito um moribundo andarilhando pelas ruas quilométricas sem direção. Imaginem um grão de areia preso numa ampulheta. Pra lá e pra cá. Contando hora por hora. E a cada movimento, um suspiro. Tempo é traiçoeiro. Vocês acham que ele não pode estar contra alguém? Bem, não sei de vocês, mas, o tempo, Ah! o tempo está sim, contra mim.

A Carta de Annie Mc’findley

segunda-feira, 5 de abril de 2010


“Oi.

Essa é a última vez que lhe escrevo. Foram seis anos de cartas, choros, medos. E dessa vez eu escrevo para dizer que minha bússola mudou.
Nesse intervalo de tempo, enquanto escrevia, minha vida parecia estar ancorada em alguma parte do mar, onde não se via nada além de água. E neste mesmo período, desde que você foi embora, a solidão ocupou seu lugar. Fincou sua cadeira na areia ao lado da minha, e, juntas, nós trocamos prazeres. As carícias da solidão são pesadas, mas confesso que me acostumei com elas, e, hoje sinto até falta, quando ela me deixa por muito tempo. Ela confessou gostar de mim. Fez também um pacto de sangue, no qual não me abandonaria, fosse o que fosse.
E foi com ela, a solidão, que me perdi de vez. Bebemos juntas, falamos mal do mundo, de seus habitantes porcos, andamos por trilhas escuras de mãos dadas, enquanto observava as luzes de mercúrio espalhadas ao longo da cidade já distante de nós.
Com a solidão, me confessei. Contei meus pecados, minhas impurezas, meus pensamentos mais imundos. Foi com ela que me limpei.
Com a solidão, Enterrei meus traumas. Dores não são adornos de usar. Dores são males. E ela ouviu cada um deles.
E quando percebi, estava com sua imagem na mente, mas a companhia da solidão não me deixava sentir mais a sua falta. Agora somos uma só: eu e ela. Amantes eternas. Desancorei meu navio, joguei fora minha bússola, porque ela aponta pra você e não quero mais te encontrar. Meu prazer agora é: juntas, eu e a solidão, sentirmos o prazer eterno da procura.

Boa sorte,

Annie Mc’findley”

A casa

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ela morava numa casa velha e cercada por campos. Do lado de fora a varanda fria e cheia de folhas mostrava o total abandono- ela não queria mais nada - e o vento que entrava pela janela de madeira quebrada esfriava os velhos móveis de mogno escuro. O café ralo na xícara esfumaçava enquanto ela olhava o céu cinza, o tempo irritado. Era como se a natureza estivesse de luto - e quem sabe não estava mesmo - por que não haveria de estar?

Ela acordava às 4 horas todos os dias, beijava sua querida avó- a quem devia todo amor do mundo- preparava o café, colocava a ração fresca para o cachorro, tomava um bom banho de água quente, ia para o trabalho -roupa simples, jeans, camiseta, um casaco tricotado pela sua avó- trabalhava o dia todo no vilarejo, no comércio local, voltava às 19 horas, e sua avó havia preparado o jantar -sopa, legumes -e as duas tomavam sentadas à mesa de madeira velha, enquanto riam do dia que passara.
Ela, cujo amor saía-lhe pelos poros, agora olhava distante, enquanto se despedia de dona Iolanda, a qual o corpo se estirava pela cadeira velha de balanço. Sim, a natureza devia mesmo estar de luto, tanto quanto ela.
A casa ficou fechada muito tempo. Ela quase não saía, a não ser para o trabalho-que ainda fazia com gosto. Morava numa casa simples, e sua vida era cheia de cor. Agora sobraram as lembranças de seu álbum velho de fotografias, uma casa impregnada de memórias dolorosas, e a companhia do vento, que sempre entrava pela janela.

domingo, 6 de setembro de 2009


Sobrou os escombros e a poeira que sobe e escurece o céu. O dia cinza que passa lento deixa triste o olhar de quem perdeu tudo. E não é perder algo, do tipo que se trabalha e se conquista de novo. É perder o olhar terno. É perder o olhar sedento que te desejava. É ver ir embora o amor, já frio, pela janela do ônibus. É acordar sem o interesse pela vida, porque o mesmo se esvaiu, enquanto dormia. E fica a sensação, de que tudo parece igual. o frio o calor, a fome. nada faz efeito. seu corpo não sente. A única coisa que realmente dói e o coração. Parece bater contra a vontade. A garganta se fecha e o ar encontra dificulade de passar. E não se consegue ver, da altura que está, nem sequer um fio de luz. Um grande poço onde, no mais, o próprio eco, faz companhia.


Na minha mente tem cheiro de chá. tem bolo fresco de fubá e janelas abertas. Tem vento frio entrando pelas janelas abertas. Tem céu nublado. Na minha mente, tem árvores na paisagem. Tem montanhas verdes meio cobertas pela neblina. Isso, também tem neblina. Na minha mente, tem uma piano tocando. também tem caneta e papel. Sai fumaça da minha xícara de chá. A música me dá calafrios, o vento frio me deixa entorpecido, o céu me deixa melancólico, minha mente, sim, na minha mente também tem melancolia...


No chão a certeza do caminhar.
Andar de braços abertos esperando o vento na contra-mão.
Nas costas a mochila com suas lembranças.
A água que cai molhando o caminho não faz recuar.
Nem mesmo A febre dos tempos difíceis intimida a jornada.
Porque não há nada que faça valer a pena ficar inerte.
Não com tanto chão pela frente.
E no caminho, ficam os fracos que desistiram de caminhar.
E eles olham com dificuldade para a jornada dos que seguem,
e comentam entre si: "Não vão conseguir".
Talvez não consiga. Mas há a certeza de que, se não conseguir chegar
valeu a pena, pelo menos, o caminhar.
thiago da silva B.