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A Carta de Annie Mc’findley

segunda-feira, 5 de abril de 2010


“Oi.

Essa é a última vez que lhe escrevo. Foram seis anos de cartas, choros, medos. E dessa vez eu escrevo para dizer que minha bússola mudou.
Nesse intervalo de tempo, enquanto escrevia, minha vida parecia estar ancorada em alguma parte do mar, onde não se via nada além de água. E neste mesmo período, desde que você foi embora, a solidão ocupou seu lugar. Fincou sua cadeira na areia ao lado da minha, e, juntas, nós trocamos prazeres. As carícias da solidão são pesadas, mas confesso que me acostumei com elas, e, hoje sinto até falta, quando ela me deixa por muito tempo. Ela confessou gostar de mim. Fez também um pacto de sangue, no qual não me abandonaria, fosse o que fosse.
E foi com ela, a solidão, que me perdi de vez. Bebemos juntas, falamos mal do mundo, de seus habitantes porcos, andamos por trilhas escuras de mãos dadas, enquanto observava as luzes de mercúrio espalhadas ao longo da cidade já distante de nós.
Com a solidão, me confessei. Contei meus pecados, minhas impurezas, meus pensamentos mais imundos. Foi com ela que me limpei.
Com a solidão, Enterrei meus traumas. Dores não são adornos de usar. Dores são males. E ela ouviu cada um deles.
E quando percebi, estava com sua imagem na mente, mas a companhia da solidão não me deixava sentir mais a sua falta. Agora somos uma só: eu e ela. Amantes eternas. Desancorei meu navio, joguei fora minha bússola, porque ela aponta pra você e não quero mais te encontrar. Meu prazer agora é: juntas, eu e a solidão, sentirmos o prazer eterno da procura.

Boa sorte,

Annie Mc’findley”

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