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A casa

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Ela morava numa casa velha e cercada por campos. Do lado de fora a varanda fria e cheia de folhas mostrava o total abandono- ela não queria mais nada - e o vento que entrava pela janela de madeira quebrada esfriava os velhos móveis de mogno escuro. O café ralo na xícara esfumaçava enquanto ela olhava o céu cinza, o tempo irritado. Era como se a natureza estivesse de luto - e quem sabe não estava mesmo - por que não haveria de estar?

Ela acordava às 4 horas todos os dias, beijava sua querida avó- a quem devia todo amor do mundo- preparava o café, colocava a ração fresca para o cachorro, tomava um bom banho de água quente, ia para o trabalho -roupa simples, jeans, camiseta, um casaco tricotado pela sua avó- trabalhava o dia todo no vilarejo, no comércio local, voltava às 19 horas, e sua avó havia preparado o jantar -sopa, legumes -e as duas tomavam sentadas à mesa de madeira velha, enquanto riam do dia que passara.
Ela, cujo amor saía-lhe pelos poros, agora olhava distante, enquanto se despedia de dona Iolanda, a qual o corpo se estirava pela cadeira velha de balanço. Sim, a natureza devia mesmo estar de luto, tanto quanto ela.
A casa ficou fechada muito tempo. Ela quase não saía, a não ser para o trabalho-que ainda fazia com gosto. Morava numa casa simples, e sua vida era cheia de cor. Agora sobraram as lembranças de seu álbum velho de fotografias, uma casa impregnada de memórias dolorosas, e a companhia do vento, que sempre entrava pela janela.

2 comentários:

Unknown disse...

Adorei o seu blog.
A forma como vc descreve as sensações,coisas simples q com o passar do tempo, devido a pressa do dia a dia deixamos de perceber e vc de maneira tão singela consegue atravez da sua poesia descrever com tanta simplicidade.
Vc está de Parabêns!!!

Thiago disse...

Obrigado Luciene. Suas palavras são muito importantes. Espero sua visita sempre.. bjos

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